Eletrobras salta quase 50% na bolsa com anúncio de privatização e ganha R$ 9 bi em valor de mercado

Eletrobras salta quase 50% na bolsa com anúncio de privatização e ganha R$ 9 bi em valor de mercado

Alta puxa Ibovespa que atinge maior patamar desde janeiro de 2011

22/08/2017 - 11H41 - ATUALIZADA ÀS 20H38 - POR ESTADÃO CONTEÚDO E REUTERS
SEDE DA ELETROBRAS NO RIO DE JANEIRO (FOTO: NADIA SUSSMAN/BLOOMBERG VIA GETTY IMAGES)

O anúncio de que o governo vai privatizar a Eletrobras impulsionou o Ibovespa, principal índice de ações da B3, nesta terça-feira, fazendo-o atingir seu maior patamar desde janeiro de 2011. As ações ordinárias da estatal subiram 49,3%, a R$ 22,20, enquanto as preferenciais disparam 32,08%, cotadas a R$ 23,55. Com isso, o valor de mercado da estatal de energia elétrica subiu R$ 9,14 bilhões.

"Agora a empresa vale R$ 30 bilhões, mas o patrimônio líquido nosso é de R$ 50 bilhões. A gente ainda não vale o nosso patrimônio porque quando se é estatal o mercado coloca uma série de descontos", disse o CEO da companhia, Wilson Ferreira Jr., citando fatores estatais que atrasam os processos, como obrigações relacionadas à Lei de Licitações e limitações para se contratar bons profissionais.

"A privatização da Eletrobras é uma notícia positiva tanto do ponto de vista micro como macroeconômico. Além disso, há uma perspectiva de votação da medida provisória que cria a TLP (taxa de longo prazo). Esses dois pontos dão fôlego à Bolsa. No entanto, temos também um cenário internacional favorável, com recuperação dos índices lá fora e menor aversão ao risco. Tudo isso contribui para esse quadro mais favorável", explicou Ignácio Crespo, economista da Guide Investimentos.

“O anúncio de que o governo federal está propondo a privatização da Eletrobrás é inesperado e positivo, apesar da falta de detalhes sobre essa proposta (se é uma privatização real ou simplesmente a venda de uma participação na empresa)”, escreveram os analistas do banco Santander, em relatório distribuído a clientes. “Vemos a Eletrobras negociada a um grande desconto para seu patrimônio líquido potencial e o desempenho recente da ação tem sido fraco com base em incertezas a respeito do plano de reestruturação a ser implementado pela administração.”

A alta expressiva está relacionada ao fato de que a venda de ações da Eletrobras estava fora do radar dos investidores, segundo explicaram analistas da corretora Coinvalores. “A notícia de privatização da Eletrobras traz a percepção de que o governo está bastante engajado no ajuste fiscal, o que tende a trazer certo ânimo para o mercado bursátil no curto prazo”, avaliaram, em relatório a clientes.

A União também deve ter ganhos neste processo, que poderiam ajudar no fechamento das contas públicas e que dependeriam da posterior venda de hidrelétricas da Eletrobras que hoje operam no regime de cotas, gerando energia a preços baixos.

Em troca da descotização, que permitiria a venda de energia a preço de mercado, o governo poderia fixar um bônus de outorga que seria pago pela companhia com o valor obtido com uma emissão de ações da Eletrobras, reduzindo a fatia da União na estatal.

O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, disse que a decisão sobre descotizar ou não as usinas será da estatal. "Não haverá decisão mandatória sobre descotização. É decisão empresarial da Eletrobras", disse ele a jornalistas.

A proposta de privatização, anunciada na véspera, será apresentada ao Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) na quarta-feira, movimento que deve disparar estudos para detalhar os caminhos a serem perseguidos no processo, disse o ministro.

Como seria

Pelas regras atuais, a desestatização da elétrica poderia ser por venda direta de controle ou por emissão de ações e consequente diluição da participação do governo na empresa, comentou o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Eduardo Guardia, durante coletiva de imprensa.

Segundo ele, "não há qualquer previsão de valor sobre a operação" e nem definição sobre modelagem a ser adotada ou a participação final da União na empresa.

Mais cedo, o ministro de Minas e Energia disse à Reuters que o governo poderia obter 20 bilhões de reais no processo. "Vai ser em torno disso (20 bilhões de reais), mas quem determina é o mercado", frisou ele.

Ajuda ao Tesouro

De acordo com o secretário da Fazenda, a desestatização da Eletrobras não configura receita primária para o governo. Falando em tese, Guardia explicou que um caminho para que os recursos entrem nas contas do governo como receita primária, ajudando no resultado fiscal, seria por meio do pagamento de bônus no processo de descotização de 14 usinas do grupo.

"Aí sim, será receita primária", explicou o secretário. "(A privatização) não está sendo feita para gerar receita primária". Hoje, parte das usinas de geração da Eletrobras fazem parte do regime de cotas criado durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff e que prevê tarifas com preços abaixo dos praticados pelo mercado, que remuneram apenas os custos.
O governo Michel Temer está propondo mudanças no setor elétrico -ainda não enviadas ao Congresso- que preveem reversão do sistema de cotas, mediante pagamento de bônus à União.

Itaipu e Angra

O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Paulo Pedrosa, explicou que a usina binacional de Itaipu e a Eletronuclear, que controla as centrais nucleares de Angra dos Reis (RJ), devem ser separadas para ficar fora da privatização.

No caso da Eletronuclear, a empresa deve continuar estatal porque a legislação proíbe que empresas privadas gerem energia nuclear no Brasil. No caso de Itaipu, há dificuldades em entrar no processo, uma vez que a usina é dividida entre Brasil e Paraguai e regida por um acordo internacional entre os dois países.

Ferreira Júnior disse também que a desestatização não interfere em outras ações em andamento, como as vendas de participações em Sociedades de Propósito Específicas (SPEs) e distribuidoras, além dos programas de redução de custos.

Interessados

Em São Paulo, o presidente da EDP Brasil, Miguel Setas, disse que a empresa mantém interesse em comprar fatias da Eletrobras em hidrelétricas em que as empresas são sócias, e que a privatização da companhia federal deverá também ser avaliada.

"Já fomos muito explícitos sobre nosso interesse nesses três ativos em que somos parceiros da Eletrobras... sobre o processo atual (de privatização), acho que ainda é cedo para nos pronunciarmos, mas obviamente nossa obrigação é fazer uma análise de todas oportunidades que possam aparecer no mercado", afirmou ele a jornalistas.

A EDP Energias de Portugal, controladora da EDP Brasil, era estatal e passou por um processo de privatização. No fim de 2011, a última fatia do governo português foi vendida à chinesa China Three Gorges, hoje a maior acionista da empresa. Na época, brasileiras como a própria Eletrobras e a Cemig chegaram a disputar o negócio.

Já o presidente-executivo da Engie Brasil Energia, Eduardo Sattamini, disse que o modelo de venda do controle da estatal deve atrair principalmente investidores financeiros. Ele citou o exemplo do Bradesco na época da privatização da mineradora Vale. Ele acrescentou que a Engie mantém interesse nas hidrelétricas da estatal, caso esta siga com os planos já anunciados para a venda de ativos.

Para o diretor da consultoria Excelência Energética, Erik Rego, a Eletrobras pode "cair no colo" de alguma gigante chinesa, como a Three Gorges, se a venda visar um único comprador. Ele sugeriu, no entanto, que um eventual fatiamento da estatal em "blocos de ativos" poderia atrair mais interessados e gerar competição, o que favoreceria os consumidores.

Mas Ferreira Jr. descartou a venda de subsidiárias como Chesf e Furnas.

Fonte: Época


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